Beleza Americana




Beleza Americana (American Beauty)
EUA, 1999, de Sam Mendes. Produzido por Steven Spilberg. Com Kevin Spacey, Annette Bening, Thora Birch, Wes Bentley, Mena Suvari, Peter Gallagher e Chris Cooper. Cinco Oscars, incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor ator. Três Globos de Ouro: filme, diretor e roteiro original.



"Nunca é muito tarde para voltar atrás" - Lester



.... Olhe bem de perto ....



Beleza americana é o nome de uma rosa cultivada nos Estados Unidos, sem espinhos e sem perfume, e está presente nos jardins, no centro da mesa e nos delírios de Lester, vivido por Kevin Spacey, espetacular. Lester é um homem que abriu mão dos seus desejos para viver uma vida medíocre ao lado de sua mulher Carlyn, Annette Bening, uma tirana enlouquecida que se esforça para manter a fachada de um casamento feliz. Jane é a filha adolescente típica, ignorada pelos pais. Na casa vizinha mora um rapaz apaixonado pela garota, que a filma o tempo todo, vende drogas e está acostumado a viver de aparências para não desagradar o pai, um nazista. No meio de tudo isso, surge a desinibida Angela, colega de escola de Jane, que começa a arrastar uma asa para o pai da amiga. A obsessão pela menina faz com que Lester jogue tudo pro alto, emprego, sua vida certinha, a submissão à mulher. Mais um filme sobre a incapacida de comunicação, mais uma vez o sonho americano é desmascarado. Beleza Americana é um daqueles filmes que vão contra o sistema estabelecido e são premiados com o Oscar, para mostrar o quanto a Academia pode ser liberal. Gosto demais desse filme.

O IMDB me contou: Primeiro filme de Sam Mendes, diretor de teatro, autor de uma peça de muito sucesso, The Blue Room, com Nicole Kidman. Por isso nos créditos finais ele brinca, agradecendo a Dr. Bill e Alice, os personagens vividos por Tom Cruise e Nicole Kidman em De Olhos Bem Fechados, de Stanley Kubrick. Na edição, o diretor cortou cinco minutos de filme, mudando inteiramente o final da história.

O diretor queria Tom Hanks para o papel de Lester. Jeff Daniels também foi lembrado. Sam Mendes é casado com a atriz Kate Winslet.

.

Bonequinha de Luxo





(Breakfast at Tiffany's)
EUA, 1961
De Blake Edwards. Com Audrey Hepburn, George Peppard, Mickey Rooney

"Eu não ligo para jóias. A não ser diamantes, claro." Holly Golightly

Imagine esse filme sem Audrey Hepburn? Não seria nada, mas graças à ela, é cultuadíssimo, não sem razão.

(Vou abrir um imenso parêntese aqui: Parem de me xingar.Vamos ser tolerantes. Mudei o início do texto que dizia que o filme seria chato. Mas graças a Audrey Hepburn não é. Verdade que me ameaçaram de morte. Sério. Muitos comentários agredindo. Que eu era isso e aquilo. Gente, é só um fil-me. Me deixem.)

Na verdade, os protagonistas são Audrey e Givenchy.

A atriz se tornou símbolo da mulher de classe. O sobretudo cor de abóbora, os brincos, os óculos escuros, calças cigarette, coque banana com balayage, lenços amarrados no queixo, as luvas, pérolas, chapéus e, claro, o pretinho básico, fizeram de Audrey a modelo perfeita do estilista, seu ideal feminino. Só isso. O roteiro é bobíssimo e os diálogos também.

Uma garota de programa que acaba se envolvendo num escândalo com drogas. Você pode acreditar que Audrey esteja metida nisso? Mas a censura da época fazia com que tudo fosse muito sutil e lençóis amarrotados numa cama de casal faziam de um pingo uma letra. A atriz fuma o tempo inteiro, às vezes com sua enorme piteira; era glamuroso fumar. Uma coisa boa é Moon River de Henry Mancini, Oscar de melhor canção original, que ela canta (de verdade) sentada na janela tocando violão (de mentira).

A história: Holly Golightly, uma "garota de programa", louca pela joalheria Tiffany, quer se casar e $e dar bem. Um escritor inseguro e bonitão é sustentado por mulheres casadas em troca de vocês sabem o quê. Quando ele vai morar no mesmo prédio que ela, os dois fazem amizade, que logo se transforma em quase-amor. O que não impede que ela fique de olho num milionário brasileiro com quem deseja ir para o altar.

Os momentos legais são: a atriz falando português; trocando de roupa dentro do táxi; quando ela chora na cama, depois de destruir a casa, e flocos do travesseiro caem sobre ela como neve. E o beijo na chuva, claro. Audrey considerava a cena em que joga seu gato laranja no meio da rua a mais difícil que fez no cinema.

Givenchy

Quando foi anunciado que a senhorita Hepburn gostaria de vê-lo, o costureiro francês achou que se tratava de Katherine. Daí aquela magrelinha entrou no seu ateliê e ele não tinha a menor noção de quem se tratava. Ela explicou que gostaria de usar suas roupas em Sabrina, de Billy Wilder, e ele não deu a mínima, dizendo que não tinha tempo e estava se dedicando exclusivamente à sua nova coleção. Que, se quisesse, ela poderia escolher uns modelinhos já prontos. Audrey aceitou. O filme de Billy Wilder acabou ganhando o Oscar de melhor figurino, premiando Edith Head, por questões de contrato. A figurinista não deu crédito ao vestido de baile criado pelo estilista francês, e por isso, Audrey exigiu que apenas Givenchy escolhesse suas roupas dali por diante.

No livro de Truman Capote, Holly é bissexual, e o personagem vivido por George Peppard é gay. E não terminam juntos.



Comidinha para acompanhar:

Compre queijo roquefort e amasse bem, com muitas nozes picadinhas. Faça torradas de pão preto e coloque uma rodela de ovo cozido sobre a pasta, em cada uma delas.

.

O Amor não tira Férias





(The Holliday)
EUA 2006 Direção e roteiro de Nancy Meyers. Com Cameron Diaz, Kate Winslet, Jude Law, Jack Black, Eli Wallach, Rufus Sewell e Edward Burns


Em primeiro lugar é bom lembrar que, conforme fica claríssimo no título, "O Amor não tira férias" é um filme de en-tre-te-ni-men-to. Cinema também é a melhor diversão, e quando bem feitas, as comédias românticas são deliciosas. Coloque um moleton, faça pipocas e relaxe.

(Li uma crítica que detona o filme, como se sua pretensão não fosse apenas divertir e iludir. Ora, cinema é a melhor ilusão.)

Nunca pego filmes chick flick, de mulherzinha, são tão sofríveis, a maioria muito ruim, mas fui atraída pelo elogio na caixinha, feito por um crítico da Folha de S. Paulo. Dizia alguma coisa como "encantador", o que de fato o filme é.

Tem mais de duas horas de duração, mas não posso dizer se achei cansativo, porque assisti metade, dei pause, e continuei depois. Sou coração de manteiga, pensei: "Não vou dar conta" e dividi o filme em duas partes. Chorei de-mais.

Sinopse: Amanda (Cameron Diaz - a crítica detonou a interpretação dela; achei uma graça) mora numa mansão em Los Angeles e tem uma produtora de trailers para cinema. Iris (Kate Winslet - uma das 3 melhores atrizes do cinema hoje) vive em uma casinha perto de Londres e escreve uma coluna sobre casamento no jornal Daily Telegraph. Ambas acabam de terminar seus relacionamentos e querem fugir das festas de Natal. Navegando na internet, Amanda descobre um intercâmbio de casas e as duas fecham negócio.

Claro que Iris dá pulos na cama sofisticada de Amanda, como Tom Hanks em "Quero ser grande", e Amanda acha tudo muito desconfortável na minúscula casa isolada de tudo. Resolve desistir, mas a campainha toca e é Jude Law. Daí já viu.

Enquanto escrevia, a roteirista e diretora Nancy Meyers - de "Alguém tem que ceder" e o bobão "Do que as mulheres gostam" - pensou em Hugh Grant para fazer o personagem inglês. Hugh Grant mora no nosso coração de pijaminha, mas Jude Law está perfeito: é lindo. Seu tipo só existe no cinema, um dos seus defeitos é chorar. Imagina você.

Aliás, o que achei um pouco idiota foi Amanda não conseguir chorar, mesmo estando triste. E de cara a gente já sabe que é óbvio que no final ela vai se dar conta de que está chorando (por amor) e vai começar a rir (de felicidade). Péssimo.

O brinde-surpresa aparece na locadora onde estão Íris e Miles (Jack Black), o outro casal do filme, duas pessoas traídas que se atraem, mas não convence. O que atrapalha não é o fato de Jack ser o anti-galã, o problema é que os dois não fazem liga, e a história fica meio capenga.

(Acho que o Jack Black encaretou. Não é mais aquele cara de "Alta Fidelidade" e "Escola do Rock".)

Ainda sobre a cena da locadora: a participação vapt-vupt de um dos grandes atores americanos, num autodeboche, é mais uma homenagem ao cinema, entre várias outras.

"O amor não tira férias" é uma fofura para quem gosta de água com açúcar, com diálogos engraçadinhos e bem escritos. Um bom termômetro: se você não gostou de "Simplesmente Amor", provavelmente não gostará desse, porque o primeiro é melhor. O primeiro é ótimo. Se você estiver com expectativa zero, como eu estava, tem chances de se divertir e suspirar bastante.

.

A Última Noite




(25th Hour)
EUA, 2002
De Spike Lee
Com Edward Norton, Philip Seymour Hoffman, Brittany Murphy, Rosario Dawson, Anna Paquin


Onde eu errei?



Vinte e quatro horas na vida de Monthy (Norton), um traficante que no dia seguinte irá para à cadeia, onde ficará por sete anos. Esqueça os filmes sobre drogas, não tem nada a ver, o filme não é sobre isso. Monthy foge do estereótipo, é um sujeito que podemos chamar de bacana. Tá certo que vender crack não é nem um pouco legal, mas ele não é de briga, é na dele, não é isso que importa no filme. A pergunta é: Onde foi que erramos? Em que momento da vida trocamos os pés? Monthy é dedurado, a polícia acha drogas e dólares dentro do forro do sofá e bye bye life.

Não torcemos pela desgraça do protagonista porque logo de cara, na primeira cena, ele e seu amigo encontram um cachorro entre a vida e a morte, abandonado na calçada. Ele salva o animal que passa a ser seu companheiro. Bem, Monthy tem 24 horas de liberdade. O que você faria? Ele divide seu tempo entre o pai viúvo (Cox), a namorada (a sexy Rosario, pinta logo acima dos lábios é tudo. A da atriz é fake.), e seus dois amigos: um professor desolado (Hoffman, sensacional), apaixonado por Ana (Mary), sua aluna de 17 anos; e um corretor da Wall Street - o que não significa que tenha alguma competência. Na verdade, cada um a seu modo, são personagens desolados. Como Nova York depois das torres tombadas. Apesar de ser passado em apenas um dia, tem flashbacks sutis. Não é um filme frenético, alguns diálogos são longos, tipo amigos jogando conversa fora. Adoro.

A Última Noite tem uma daquelas famosas cenas onde o ator atua sozinho diante do espelho. Nela, Edward Norton amaldiçoa os habitantes de Nova York, falando 40 vezes o verbo fuck. Não houve improvisos, ao contrário do flashback onde Monthy e Naturella conversam sobre beisebol nos balanços infantis do Central Park.

O roteiro foi escrito antes das torres desabarem, mas Lee inseriu cenas para torná-lo pós-11 de setembro. Por isso tanta bandeira americana, por isso a paisagem de um dos apartamentos é o Ground Zero. Desiluções poderia ser o subtítulo do filme, se ele precisasse de algum.


Extra A tatoo de Anna Paquin, em forma de cabala, em volta do umbigo, também é falsa. Na verdade foi feita com henna.

.

Jack Nicholson cresceu pensando que sua avó era sua mãe, e que sua mãe era sua irmã mais velha. Só soube a verdade pela imprensa, quando já era famoso.

.