Cidadão Kane




Cidadão Kane (Citizen Kane)
EUA,1941 . De Orson Welles. Roteiro de Orson Welles e Herman Mankieewicz. Produção de Orson Welles. Música de Bernard Herrmann. Edição de Robert Wise. Com Orson Welles, Joseph Cotton e Dorothy Comingore.


"Se eu não fosse tão rico, poderia ter sido um grande homem." Kane

Um repórter busca reconstituir a vida de Charles Foster Kane (Welles), um poderoso homem da imprensa, a partir da última palavra que ele diz antes de morrer: rosebud.


"Será que alguém realmente pode reservar os direitos autorais da história da sua própria vida?” Orson Welles

Literalmente graças a Deus, o negativo de Cidadão Kane não foi destruido. Quando o chefe da Censura foi assistir ao filme para dar seu parecer, Welles enfiou um terço no bolso e, no final da exibição, deixou-o cair em frente ao censor, supercatólico. O cineasta educadamente pediu licença e pegou o terço de volta. Só por isso o filme - hoje considerado o melhor do mundo - foi salvo.

Quando Orson Welles, aos 25 anos, recebeu carta branca dos estúdios da RKO para fazer o que bem quisesse no seu primeiro filme, não foi porque os produtores de cinema eram sensíveis à genialidade do rapaz, mas pelo sucesso estrondoso de seu programa de rádio.

Superbaseado na vida de William Randolph Hearst - o magnata das comunicações -, Cidadão Kane sofreu todos os tipos de boicotes e represálias. O estúdio implorava ao diretor que o queimasse para evitar mais problemas. Os jornais de Hearst receberam ordens expressas de nunca mais tocar no nome da RKO. Não que o alvo do diretor fosse o megaempresário do jornalismo; Orson queria apenas se basear em alguém poderoso, tendo pensado inclusive em Howard Hughes, o aviador multibilionário. Optando por Hearst, o cineasta já esperava por isso, mas nunca poderia imaginar que todos à sua volta fossem amarelar.

O filme não foi exibido nas cadeias de cinemas nem em lugar algum, a não ser em algumas cinematecas. Já que não se falava em outra coisa, Welles propôs que o estúdio colocasse anúncios nos jornais - "Este é o filme que você não pode ver no seu cinema local" - e o exibisse em enormes tendas. Suas jogadas de marketing foram ignoradas e o filme não rendeu "um dólar”. A raiva de Hearst, já imaginada por Orson Welles, tinha motivos. Além de Kane ter o mesmo poder que ele, as mesmas manias, um parque de diversões particular, Xanadu, onde privilégios não tinham limites - Chaplin batia ponto regularmente - e até um zoológico particular, o diretor se atreveu a usar rosebud como a palavra-chave do filme, justamente o apelido que Hearst dava a, digamos, parte mais intima de sua amante.

Assim como em todos os grandes filmes, aconteceram mil problemas no set. Orson usava lentes de contato para que seus olhos envelhecessem no decorrer da história. Com elas, ele não enxergava um palmo, e chegou a rolar a escadaria do cenário e quebrar ossos, sendo obrigado a continuar rodando o filme numa cadeira de rodas. O local também pegou fogo, de tanto que se queimaram trenós na lareira. Seu nariz era postiço.

O maior mérito do filme foi o modo revolucionário usado pelo cineasta, que rodou longas seqüências sem cortes, flashbacks fora de ordem, tomadas de baixo para cima e outras coisas impensáveis na época. Tudo que hoje em dia todo mundo faz, mas ninguém fazia antes dele.


Cidadão Kane foi indicado a muitos Oscars e só ganhou o de melhor roteiro, mesmo assim para derrubá-Io mais ainda, já que havia rumores em relação a sua verdadeira autoria. A platéia vaiou e riu muito, debochando de Orson Welles. Por coincidência, ele envelheceu com o rosto parecidíssimo com o de seu personagem. No final de 2007 o roteiro original foi leiloado pela Sotheby's rendendo US$ 97 mil.


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