Era uma vez




Era uma vez
Brasil, 2008 De Breno Silveira. Roteiro de Patrícia Andrade. Com Thiago Martins, Vitória Frate, Rocco Pitanga, Paulo César Grande, Cyria Coentro.

"Eu queria fazer um filme onde tudo desse errado na vida de um cara e o cara continuasse a ser bom. Este foi o estopim inicial." Breno Silveira

Breno também queria falar sobre as pessoas invisíveis. As ignoradas. Varredores de rua, entregadores de pizza, sapateiros, o cara do supermercado, o pintor de parede. E o vendedor de cachorro quente, como Dé, vivido por um comovente ( e superlindo) Thiago Martins. Chorei muito, chorei à beça.

Dé mora na favela do Cantagalo, em Ipanema, e trabalha num quiosque na Vieira Souto, em frente ao prédio onde mora Nina (Vitória), a garota por quem é apaixonado. Seu irmão é morto pelo tráfico, o outro (Rocco - excelente) vai preso inocente. Mesmo assim ele é um cara bacana. O filme foge do clichê e o pai de Nina (Paulo César) aceita o romance dos dois, proibindo apenas que a filha se exponha à violência do morro. Pena que a cena final do filme praticamente o detona. É ruim.

"Se você é bom, quando você é da favela você tem que ser bom duas vezes." Thiago Martins

Só conhecia o ator de nome, foi destaque na Revista O Globo em uma matéria sobre os novos talentos do cinema brasileiro. Não assisti nenhuma das 3 novelas que fez na TV Globo, nenhuma das peças em que atuou, e nem lembro da sua participação em Cidade de Deus, quando tinha apenas 12 anos.

Integrante do grupo Nós no morro, Thiago queria muito fazer o personagem e cercou Breno Silveira durante um ano. "Quando houve a primeira leitura, eu falei pro Breno,'Me desculpa falar isso, cara, mas o Dé não tinha como ser outra pessoa. Porque o Dé sou eu'", conta o ator, que também mora no Cantagalo, perdeu seus irmãos, e namorou uma garota da zona sul.

Não foi fácil conseguir o papel. Breno queria que o personagem fosse negro, e Thiago era branquinho demais, bonitinho demais, o cabelo certinho demais. Tinha "carinha de galã de novela". Mas o rapaz não desistiu e um dia apareceu com a cabeça raspada e a pele supercurtida de sol. "Caramba, Thiago, você está parecendo um marginal", se espantou o cineasta. No teste foi brilhante, e Breno se rendeu. Só depois soube de como sua história era semelhante a do personagem.

"Só existirá transformação se a gente olhar para o lado", diz Breno, que escreveu o roteiro em 98. "Se tivesse sido filmado há dez anos teria mais força. Lembro de uma notícia que saiu nos jornais, de um menino que desceu correndo da favela, trombou com um táxi e a polícia atirou nele. Atrás vinha seu pai enfartado e os outros fihos", lamenta. "A mensagem que eu quero passar é que as pessoas devem olhar para o lado. A cidade está surda, e todos saem perdendo. É uma guerra sem vencedor."

Foram feitas várias "sessões termômetros", com públicos diferentes, e dez minutos foram eliminados da versão final - o diretor não quis revelar quais as partes cortadas. Patrícia Andrade, a roteirista, participou das filmagens - coisa inédita no Brasil.

Extra Breno filmou vários finais diferentes, e acredita que não poderia ter escolhido nenhum outro. Thiago Martins comprou uma casa no Cantagalo, onde mora com a mãe, e não pretende sair de lá.

*Ponta* A polícia faz uma participação especial no papel dela mesma: escrota.

Problema O diretor é pessimista em relação ao futuro do cinema brasileiro. Apenas 10% das pessoas saem de casa para ver um filme nacional. Se a porcentagem baixar, as produções se tornarão inviáveis.

Veja o trailler.

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3 comentários:

vera maria disse...

Vou ver por causa do seu post, marina.
um abraço,
clara lopez

Ademar de Queiroz (Demas) disse...

Bom, Marina, então estou fora dessa estatística: não faço distinção quanto à nacionalidade do filme. Busco emoção, boas atuações, produto bem feito. Se for nacional, tanto melhor. Já estava curioso para ver "Era uma vez". Agora então...
Abração

Anônimo disse...

Achei o filme ok, o Thiago de fato é um fofo e está muito bem no papel. Mas a sensação final foi de decepção...achei a solução do roteiro simplesmente horrível. Muito mal resolvido aquele final, e por mais incrível que possa parecer, inverossímil, mesmo no Rio de Janeiro.